Estive pensando recentemente sobre quanto preconceito há dentro do universo leitores. Aprofundando meus devaneios, resolvi escrever esse post para compartilhar com vocês minhas opiniões sobre cinco categorias que identifico como distanciadoras entre os fãs de livros. Que tal conversarmos sobre estes assuntos?

Livros de youtubers

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Com o enorme sucesso dos Youtubers, as livrarias foram bombardeadas com exemplares dessa nova geração de artistas. A maioria são autobiografias, contando sobre o pré-fama ou histórias de sua vida, sejam essas referentes ao conteúdo dos respectivos canais ou não.

Não é novidade que os youtubers carregam uma infinidade de fãs e, com um público grande desses, seus livros saem das prateleiras rapidamente. As obras caíram no gosto dos jovens, conquistando lugares altos nos tops de vendas e maus olhares de alguns grupos de leitores.

Independente do conteúdo neles expresso, acredito que qualquer forma de leitura seja válida. Como o principal público e compradores são crianças e pré-adolescentes, prefiro ver a escrita dos youtubers como a abertura de uma porta, um caminho para incentivar os jovens a lerem mais e isso é ótimo.

Entretanto, chega a ser um pouco deprimente o modo que alguns destes novos escritores pouco medem suas palavras nos livros. Para quem acompanha as notícias, houve casos de youtubers expondo ex-namoradas e contanto histórias abusivas onde eram os praticantes: esse conteúdo não é legal. Para leitores que estão criando suas mentes agora, esse tipo de ideia não deveria ser difundida nas obras.

O problema é a força que a generalização tomou graças à notícias como essas. Por isso, vale ressaltar que ainda há exemplares excelentes, produtivos e recomendáveis para todas as idades, vide "Tá Todo Mundo Mal", de Jout Jout. Julia Tolezano tem 25 anos e reúne em seu livro algumas angústias em textos divertidos, conversando com o leitor sobre relacionamentos, trabalho e inseguranças, uma espécie atual de livro de autoajuda bem similar aos vídeos de seu canal.

Tem coisa ruim? Tem. Mas também há muita coisa boa nessa nova geração de escritores. É olhar com a mente aberta e saber separar o que é bom ou não antes de sair julgando por um ou dois maus exemplos. 

Valesca escritora?

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Considerada a rainha do funk, a carioca Valesca foi vocalista do grupo Gaiola das Popozudas de 2000 à 2013, quando saiu para lançar sua carreira solo. Atualmente a cantora está com 37 anos e lançou seu primeiro livro intitulado Sou Dessas - Pronta pro Combate

Muito popular e querida entre os brasileiros, as notícias da publicação se tornaram virais e muitas pessoas demonstraram interesse no livro, assim como muitos apedrejaram. Apesar do funk fazer parte da cultura nacional, há um enorme preconceito com o estilo devido à predominância de letras pornográficas e vídeos apelativos. Com seu histórico, a nova escritora tornou-se alvo de críticas perante alguns grupos de leitores.

Com 200 páginas escritas por ela mesma e em primeira pessoa, o livro com histórias de Valesca é uma autoajuda para as mulheres que sofrem preconceito, racismo e abusos, como dito por ela mesma em entrevista para a UOL. "Tento mostrar que, para tudo, basta você querer".

"Comecei a cantar falando sobre o que acontece com a mulher, e elas começaram a se identificar. Então me intitularam de feminista. Achei ótimo, porque sempre vou ser assim. A mulher tem que lutar pela mulher, jamais contra", afirma em entrevista para o UOL.

Esse é o tipo de livro que eu com certeza leria - e estou louca para conferir. Valesca já passou por muita coisa nessa vida e deve ter ótimas histórias para contar. 

Pseudo-Cults da Literatura


Saindo um pouco do preconceito por determinados autores, entre os próprios leitores há certa discriminação. O pseudo cultismo é gostar (ou fingir gostar, o que é pior ainda) de determinado livro, música ou filme apenas para serem considerados especiais e tornarem-se "diferentes" por isso.

Na literatura envolve falsos leitores de escritores como Fernando Pessoa, Clarice Lispector, Oswald de Andrade, Paulo Coelho, Karl Marx e outros grandes nomes. Os pseudo-cults adoram citar suas frases e considerar qualquer obra blockbuster infanto-juvenil um lixo, mesmo sem sequer passar os olhos pela sinopse. Outro caso é o famoso gostar em segredo para não "sujar sua imagem de intelectual", a típica e desnecessária vergonha de se assumir fã de alguma modinha. 

Acho extremamente necessário conhecermos ao menos um pouco das obras desses famosos tão importantes para a história da literatura, mas considerar-se melhor por ler apenas esse tipo de livros é forçar a barra e ser um mente fechada sem graça. Abrir-se para novidades é muito bom, assim como fechar-se para o passado também é ruim.

Saga x Saga


Aqui as coisas pioram. Acho incrivelmente fútil a rivalidade entre fãs de sagas distintas. Gostos são diferentes, isso é óbvio. Para cada gosto há um tipo de livro. Se você não gostou de tal, não precisa (e nem deveria) esculachar com a obra ou fazer pouco caso da mesma, apenas ignore e passe para uma próxima que seja de seu maior agrado.

Acredito que o maior caso tenha sido entre Harry Potter e Crepúsculo o que, convenhamos, não faz o menor sentido. Apesar de ambos abordarem o sobrenatural, Harry Potter tem o foco na magia, no desenvolvimento dos personagens ao longo da história afim de derrotar Voldemort, enquanto Crepúsculo é um romance romântico com lobisomens, vampiros e uma garota normal. Essas obras nem tem tanto em comum para tamanha comparação!

Na época em que os filmes ainda eram lançados, lembro que assumir-se como fã de ambas era pedir para ser apedrejado pelos fandoms e, quando achei que estas guerrinhas haviam acabado, surge a leva de sagas que são basicamente versões atuais e juvenis de Admirável Mundo Novo, como Jogos Vorazes, Divergente e Maze Runner, mas felizmente a escala das brigas hoje em dia é muito menor.

Qual a necessidade em discutir qual livro é melhor? Apenas abraço todas essas sagas e as amo sem distrições.

Filme x Livro


Nesse ponto eu tenho certeza que muitas pessoas irão discordar de mim, mas preciso dar minha opinião sobre, já que estamos falando nisso. Eu acho irrelevante essa importância que a maioria dos leitores dão à fidelidade entre as obras escritas e adaptações cinematográficas.

Como o próprio nome já diz, são adaptações. Há coisas do universo literário que não são traduzíveis para o cinema ou que se tornam desimportantes para um longa metragem, o que acaba tirando a lealdade aos originais, mas o rearranjando para melhor adaptar-se ao novo universo qual estará imerso que, logo, implica em algumas mudanças.

Algumas vezes informações acabam sendo alteradas e certas cenas são cortadas. Isso de fato só me incomoda quando o sentido sofre algum transtorno e o contexto acaba extrapolando muito do original, aí sim eu concordo, mas prefiro assistir todas as adaptações com os olhares bem abertos e buscar esquecer o livro por alguns momentos.

É normal você não gostar de algo, mas é irritante essa obrigação de "ter de ser igual ao texto original". Defendo, por fim, que filme não precisa ser a cópia exata do livro, mas que seja fiel o suficiente para não danificar a história (e se o fizer, passa a ser considerado uma releitura, outro caso). 


Tentando ver pelo olhar dos roteiristas e produtores do filme, independente de qual for, acredito o quão triste deve ser esforçar-se para traduzir a uma nova linguagem tão diferente e ser ofendido de diversas formas. Repito, tudo bem em não gostar da obra (seja ela audiovisual ou literária), mas todo esse descaso e esculacho para cima dela (ou mesmo do autor) é o extremo do desnecessário. Precisamos aprender a respeitar os gostos de todos e todos os gostos.

Comparações ainda são bem-vindas, afinal, essa é a graça em conhecer os dois lados da moeda. Por exemplo, acho a versão cinematográfica de "O Lado Bom da Vida" muito melhor que o livro, mas não consigo gostar das adaptações de "Alice no País das Maravilhas" traduzidas para o Universo de Tim Burton, por se tratar mais de uma releitura.

Admiro essa ansiedade fervorosa que os leitores têm toda vez que um filme é anunciado, mas acredito que esse "esperar demais" seja bem prejudicial para o que você sentirá ao assisti-lo, essa cobrança de que tudo deve ser perfeito acaba com toda a graça. 


E aí, você é um preconceituoso literário ou está mais para vítima desses casos citados? Tem alguma outra situação nesse universo que te incomoda? O que você acha das adaptações para cinema? Deixe suas respostas nos comentários para conversarmos mais sobre o assunto.